terça-feira, 28 de setembro de 2010

O Silêncio Após a Oração


Você já leu ou ouviu alguém dizer que devemos ficar em silêncio, após a oração, para
ouvir a resposta de Deus?
Qual é a origem desta prática? Ela é bíblica? Ela é benéfica para nossa espiritualidade?
Como Deus se comunica conosco? Como nos comunicamos com Deus?




Comunicando com Deus
Nós nos comunicamos com Deus por meio da oração. Davi foi um homem de oração. Nos momentos de angustia e dificuldade ele se voltava para o autor da vida em oração para se fortalecer. Ele escreveu: "Estou aflito e mui quebrantado; dou gemidos por efeito do desassossego do meu coração. Na tua presença, Senhor, estão os meus desejos todos, e a minha ansiedade não te é oculta". (Salmos 38: 8-9). Davi não só orava, mas tinha o prazer em meditar na criação de Deus e na Sua Palavra. Ele diz: "No meu leito, quando de ti me recordo e em ti medito, durante a vigília da noite. Porque tu me tens sido auxílio; à sombra das tuas asas, eu canto jubiloso. A minha alma apega-se a ti; a tua destra me ampara". (Salmo 63: 6-8).
A oração é o abrir do coração a Deus como a um amigo. Não que seja necessário, a fim de tornar conhecido a Deus o que somos; mas sim para nos habilitar a recebê-Lo. A oração não faz Deus baixar a nós, mas eleva-nos a Ele. (Caminho a Cristo, p.93)
Antes do pecado Deus se comunicava com o homem face a face, mas a entrada do pecado neste mundo quebrou esta comunicação. Após o pecado Deus passou a se comunicar com a humanidade por meio da revelação natural e especial.
Revelação natural
Os atributos de Deus podem ser percebidos por meio de Sua criação. Deus se revela por meio das maravilhas criadas em todo universo. O salmista louva a Deus com as seguintes palavras: "Os céus proclamam a glória de Deus, e o firmamento anuncia as obras das suas mãos. Um dia discursa a outro dia, e uma noite revela conhecimento a outra noite. Não há linguagem, nem há palavras, e deles não se ouve nenhum som; no entanto, por toda a terra se faz ouvir a sua voz, e as suas palavras, até aos confins do mundo. Aí, pôs uma tenda para o sol, ..." (Sal. 19:1-4)    
 A ira de Deus se revela do céu contra toda impiedade e perversão dos homens que detêm a verdade pela injustiça; porquanto o que de Deus se pode conhecer é manifesto entre eles, porque Deus lhes manifestou. Porque os atributos invisíveis de Deus, assim o seu eterno  poder, como também a sua própria divindade, claramente se reconhecem, desde o princípio do mundo, sendo percebidos por meio das coisas que foram criadas. Tais homens são, por isso, indesculpáveis; (Rom. 1:18-20)   
Os céticos recusam-se a crer em Deus, porque não podem compreender o infinito poder pelo qual Ele Se revela. Mas Deus deve ser reconhecido, tanto pelo que não revela de Si mesmo como por aquilo que é franqueado à nossa limitada compreensão. Tanto na divina revelação como na natureza, Ele deixou mistérios a fim de reclamar a nossa fé. Assim deve ser. Devemos estar sempre indagando, sempre pesquisando, sempre aprendendo, e resta, todavia um infinito para o além. (Ciência do Bom Viver, p.431)
Revelação especial
Deus se comunica de forma direta e sobrenatural por meio dos anjos, sonhos, visões, pela inspiração de pessoas escolhidas. A maior revelação de Deus foi Jesus Cristo que veio a este mundo revelar o amor do Pai. O Espírito Santo comunicou progressivamente as verdades à igreja no decorrer dos séculos.  O autor da epístola aos hebreus diz: “Havendo Deus, outrora, falado muitas vezes e de muitas maneiras, aos pais, pelos profetas, nestes últimos dias nos falou pelo Filho a quem constituiu herdeiro de todas as coisas, pelo qual também fez o universo” (Hb 1:1-2).
O apóstolo Paulo também fala aos gálatas: “Faço-vos, porém, saber, irmãos, que o evangelho por mim anunciado não é segundo o homem; porque eu não o recebi, nem o aprendi de homem algum, mas mediante revelação de Jesus Cristo” (Gl 1:11-12).
Não encontramos na revelação de Deus apoio para afirmar que o cristão deve ficar em silêncio após a oração para ouvir a resposta do Espírito Santo. As duas palavras “meditar” e “meditação” que são encontradas no Antigo Testamento são traduzidas das duas palavras hebraicas  que são encontradas em passagens como Gênesis 24:63, Josué 1:8, Salmos 1:2 e outras. A palavra hebraica "hagah", dado o contexto desses versículos, significa: ponderar, imaginar, falar, refletir, estudar, dizer, expressar, articular, etc. Outro significado é dado à palavra hebraica "aiyach" quando usada no sentido de ponderar, conversar consigo mesmo em voz alta, expressar ou conversar, reclamar, declarar, pensar, orar, falar, etc.
Na comunicação entre o cristão e Deus se dá através da oração e meditação na Sua palavra. Quando o adorador ora ele se comunica com Deus; quando o adorador pondera, pensa, medita na Bíblia, Deus fala com ele. “Por intermédio das Escrituras o Espírito Santo fala a alma.” (ODTN, p.671).  
O meditar cristão não pode ter relacionamento com o meditar do hinduísmo. Ficar em silêncio após a oração para ouvir a resposta de Deus é pratica de um cristianismo falsificado por satanás. Veja a definição de meditação usada no cristianismo zen:
  • um estado que é vivenciado quando a mente
       se torna vazia e sem pensamentos;
  • prática de focar a mente em um único objeto (por exemplo: em uma
         estátua religiosa, na própria respiração, em um mantra);
  • uma abertura mental para o divino, invocando a orientação de um
         poder mais alto;
  • análise racional de ensinamentos religiosos (como a impermanência,
         para os Budistas) ( http://pt.wikipedia.org/wiki/Medita%C3%A7%C3%A3o)
Qual é a origem da meditação zen usada no cristianismo?
A meditação zen vem da pronuncia japonesa do chinês “ch’na”, que, por sua vez, deriva do sânscrito “dhyana”, que significa meditação. Esta meditação é realizada em algumas posturas: semilótus, lotús integral e outras posições que consiste em uma melhor posição de relaxamento e concentração. É onde o indivíduo procura esvaziar a mente de todos os pensamentos para estar em harmonia com as forças superiores. (A "Nova Era" Diante da Fé Cristã, p. 220).
A oração de mente vazia é comum entre os cristãos que se dedicam a alguma prática de meditação. Um escritor que pratica a meditação de mente vazia, em uma reunião com alguns cristãos, sugeriu que passassem algumas horas em meditação silenciosa; vários cristãos afirmaram que essa era a forma que meditavam. Esse mesmo autor afirma que ao participar de um retiro de meditação zen em um pequeno templo situado na costa do mar do Japão,
ouviu um roshi (mestre zen) fazer uma declaração sobre a filosofia budista, de que o zen se encontrava em todas as religiões verdadeiras: induismo, islamismo, cristianismo e outras. Mais tarde, quando se preparava para sua meditação, o roshi lhe perguntou como fazia a mesma. Respondeu que se sentava silenciosamente na presença de Deus, sem pronunciar palavras, sem pensamentos, imagens ou idéias. O roshi lhe disse: “continue meditando assim, porque logo Deus ira desaparecer e só restará Johnston San.” (Cristianismo Zen uma Forma de Meditação, p. 8-11).
Em Tóquio existe um recanto de meditação zen-cristão. Onde há um lugar reservado para os cristãos fazerem suas meditações. Ali os jovens cristãos japoneses têm uma importante missão: se prepararem para introduzirem a meditação zen no interior de igrejas cristãs no oriente e no ocidente. Johnston afirma que esta é a maior urgência do cristianismo, remover as antigas formas de orações, para satisfazerem as inspirações da alma moderna. (ibid., p. 12)
Para ele, o cristão pode praticar a meditação silenciosa, ausente de imagens e diálogo. Nessa espécie de meditação o cristão pode alcançar a Deus, porque Ele é tudo. Também o cristão pode ter seu diálogo com Deus, ou simplesmente meditar e ouvir a voz de Cristo falar à alma. (ibid., p. 29–30)
Johnston diz que na meditação zen “a atenção é desviada de qualquer pensamento e imagens que passam pela superfície da mente, os quais são simplesmente ignorados em favor de uma atividade mais profunda.” Essa meditação é chamada de noite escura, devido à ausência, na mente, de idéias distintas e imagens. E que na prática da meditação deve-se deixar de lado os sentidos e os pensamentos, a mente não pode estar em atividades, tanto quanto possível, a fim de unir-se a Deus, que está acima de todas as coisas. “Sereis levados acima da divina escuridão, que supera tudo o que é.” (ibid., p. 36, 42)
Para o cristianismo zen, as palavras das Escrituras são palavras de Cristo, são suas imagens, e não O próprio Cristo. E que há possibilidade de conhecer a Cristo “mesmo em meio às trevas, ao vago, ao vazio que transcende o pensamento. "É só livrar-se das imagens de Cristo para ter uma união contemplativa com Ele. (ibid., p. 50 – 52)
As filosofias orientais estão ganhando espaço no cristianismo a cada dia. Um movimento que tem introduzido seus ensinamentos de maneira eficaz, principalmente a meditação zen, é o movimento da "Nova Era". As raízes da "Nova Era" se encontram no moderno gnosticismo, que busca retornar ao paganismo, marcado pela sua aparência pseudocristã que tem como ensinamento as doutrinas do hinduísmo, do budismo e do taoísmo. Na mistura de seitas da "Nova Era" não poderia faltar o esoterismo e o ocultismo, que buscam secretos poderes materiais. Eles alegam que seus ensinamentos estão fundados na ciência.  O principal objetivo dessa seita é introduzir seus ensinamentos em todas as áreas da sociedade. Eles chamam esse projeto de conspiração pacífica. Eles afirmam que estão preparando um povo para receber a Era de Aquário, era de paz e prosperidade para os seus seguidores. (A "Nova Era" Diante da Fé Cristã, p. 12; 44)
Will Baron foi um influente sacerdote do movimento da "Nova Era", e que no início de sua aprendizagem, quando estava praticando a meditação, ele teve contato com um suposto guia iluminado chamado Djwhal Khul, um guru tibetano de 350 anos de idade que finalmente adquirira a imortalidade após várias encarnações neste planeta. Esse guia lhe falava à mente através da meditação. Ele diz que alguns anos depois de ter se iniciado na "Nova Era", seu centro se tornou Cristão, devido ao aparecimento de um suposto guia da "Nova Era" com o nome de Jesus. Esse guia dizia ser Cristo e que a partir daquele dia estaria assumindo a direção do centro. (Enganado Pela "Nova Era", p. 208).
Ele diz que apesar de ter ficado confuso com aquele acontecimento aceitou depois de alguma relutância. Ele afirma que foi escolhido para ser sacerdote de Cristo e tinha a missão de pregar a seu respeito onde ele o mandasse. Ele pregou em praça pública, orla da praia e shopping. Depois de vários anos sendo enganado pela "Nova Era", ele foi libertado pelo verdadeiro Jesus.   
Will afirma que todo o movimento da "Nova Era" e seu cristianismo falsificado é um plano astuto de Satanás para tentar atrapalhar a missão do verdadeiro cristianismo.  Uma de suas missões como sacerdote do cristianismo falso era se introduzir em qualquer igreja cristã, e ali ensinar o método da meditação cristã, que consistia na meditação zen; depois da oração deveriam ficar em silêncio para ouvir a voz do “Espírito Santo” falar à mente. O objetivo final de sua missão era começar um grupo de meditação dentro da igreja. (ibid., p. 192-197)
Ele considera que o profundo envolvimento com as técnicas da meditação produz um resultado semelhante ao uso de cocaína. Ele observa que mesmo depois de ter saído da "Nova Era", por muitos meses, sofria as seqüelas provocadas pelo costume da meditação. (ibid., p. 216)
Afirma ainda que, certa vez, fazendo uma palestra para pessoas de um centro de comunicação cristã, que produz programas para rádio e televisão, depois de sua apresentação, ficou surpreso com um membro da equipe que afirmou ter participado de uma palestra onde o palestrante falava do beneficio da meditação, influenciando o auditório a sentar-se em silêncio, com os olhos fechados, para ouvir a voz do “Espírito Santo”. Will diz que conheceu outro seminarista que promovia a meditação dizendo que, "se uma pessoa ora a Deus por uma hora seria bom que no mínimo ela meditasse por uma hora para lhe ouvir a resposta". Ele afirma que muitos teólogos e pregadores ensinam que os cristãos devem se assentar em silenciosa meditação introspectiva, tentando ouvir a voz do ”Espírito Santo.” (ibid., p. 224-225)
Will faz uma observação quanto à meditação introspectiva, menciona que os cristãos costumam acreditar que a meditação é boa enquanto não se processa em um estado místico. “Como a maior parte da meditação da "Nova Era" não é mística, o argumento se torna inválido”. Ele afirma que o perigo está no fato de que a pessoa que pratica a meditação está com a mente disposta a receber uma entidade divina que lhe impõe pensamentos, idéias e impressões na mente. (id.)
Ele declara com base em sua experiência, que anjos satânicos têm o poder de implantar pensamentos na mente da pessoa que está em meditação; sem a necessidade de qualquer estado místico, a pessoa vivencia imagens ou mensagens que se materializam em sua consciência, as quais ela considera ser de origem divina. Ele diz que a meditação é uma oportunidade excelente para que Satanás exerça sua manipulação enganosa. Não existe um só ponto na Bíblia que apóia a meditação silenciosa, de mente vazia. Os lugares que usam o termo meditação na Bíblia estão relacionados ao ato de refletir na palavra de Deus e na sua criação. “Nenhum profeta se quer do antigo testamento comentou que se havia assentado em silêncio, esforçando-se para aquietar a própria mente a fim de ouvir a mensagem proveniente da voz ‘interior’ de Deus”. Em todos os casos de comunicação com os profetas, Deus tomou iniciativa e abordou diretamente seus porta-vozes. Will diz que meditar na Palavra de Deus e em suas maravilhas é o melhor método de meditação para o cristão. (ibid., p. 226-227)    
Meditação que condiz com o cristão
O Cristão não deve meditar de mente vazia, ou esvaziar a mente para ouvir a voz de Deus, o cristão deve encher a mente com os ensinamentos de Cristo e neles meditar, “far-nos-ia bem passar diariamente uma hora a refletir sobre a vida de Jesus. Devemos Tomá-la ponto por ponto, e deixar que a imaginação se apodere de cada cena, especialmente as finais”. Ao meditar assim em seu grande sacrifício por nós, nossa confiança nEle será mais constante, nosso amor vivificado, e seremos mais profundamente imbuídos de seu Espírito". (O Desejado de Todas as Nações, p. 83),
Pr Vicente José Pessoa

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Europeus e o Domingo

Bispos apoiam campanha europeia em defesa do descanso dominical e da família.
Fazer do domingo “O dia de descanso na Europa”, é este o objetivo de uma campanha de recolta de assinaturas, que está a decorrer através da Internet.
Trata-se de uma iniciativa que vem no seguimento da aprovação do Tratado de Lisboa, em dezembro último. Recorde-se que, entre outras matérias, aquele Tratado consagrou o “direito de petição” como um dos direitos fundamentais dos cidadãos europeus.
De acordo com um comunicado da Liga Operária Católica – Movimento dos Trabalhadores Cristãos, esta campanha conta com o apoio de alguns deputados do parlamento europeu e de diversas organizações, entre as quais a Comissão das Conferências Episcopais da Comunidade Europeia e o Centro Europeu para os Assuntos dos Trabalhadores.
A petição surge numa altura em que, apesar da legislação europeia prever o domingo como o dia de descanso, essa regulamentação não é aplicada em muitos países.
O trabalho ao domingo é cada vez mais uma realidade, o que abre a discussão quanto à falta de proteção dos interesses das famílias, sobretudo das crianças.
Entre os diversos pontos que sustentam a apresentação desta petição, os autores da iniciativa defendem, por exemplo, que “as crianças precisam de um dia para a família” e que “a consagração do domingo como o dia de descanso é um dos pilares essenciais do Modelo Social Europeu e da sua herança religiosa e cultural.”
Para poder apresentar esta proposta no Parlamento Europeu, será necessário recolher, no mínimo, um milhão de assinaturas. A iniciativa está aberta a todos os cidadãos e às organizações europeias que queiram participar, através do site www.free-sunday.eu.
Fonte: http://www.agencia.ecclesia.pt/cgi-bin/noticia.pl?&id=81388

Deus revelou o que deve acontecer nos últimos dias, para que Seu povo possa estar preparado para enfrentar os torvelinhos da oposição e da ira. Aqueles que têm sido advertidos dos acontecimentos impendentes não devem cruzar os braços numa calma expectativa da tormenta que se anuncia, consolando-se com a idéia de que o Senhor há de proteger os fiéis no dia da calamidade. Devemos ser como os servos que esperam seu Senhor, não nos abandonando a uma expectativa ociosa, mas trabalhando diligentemente com fé inabalável. Não é tempo agora de ocuparmos a mente com coisas de somenos importância. Enquanto os homens dormem, Satanás está ativamente ordenando as coisas de modo que o povo de Deus fique privado da graça e da justiça. O movimento dominical está agora preparando o caminho na sombra. Seus dirigentes ocultam seu legítimo intento e muitos dos que a ele aderem ignoram para onde os leva a corrente. Os intuitos professados são de índole branda e aparência cristã, mas sua fala há de revelar o espírito do dragão. É nosso dever fazer tudo ao nosso alcance, a fim de advertir contra o perigo iminente. Testemunhos Seletos, vol. 2, págs. 151 e 152.

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Adventismo e Política

Num ano eleitoral como o que estamos vivendo, dúvidas sobre a relação entre religião e política sempre vêm à tona: candidatura de adventistas, uso do púlpito para fins políticos, afiliação a partidos políticos e a responsabilidade civil do cristão se tornam temas recorrentes. Por isso, a Revista Adventista entrevistou o pastor Márcio Costa, professor de Teologia da Faculdade Adventista da Amazônia (Faama), que acabou de retornar ao Brasil depois de morar 13 anos nos Estados Unidos.

Na América do Norte, ele teve a oportunidade de estudar Engenharia Aeronáutica, Ciência da Computação e Administração, formação que utilizou no trabalho de logística e pilotagem de aviões missionários. Depois de receber o convite para atuar na área acadêmica, cursou a graduação, mestrado e doutorado em Teologia na Andrews University, instituição em que defendeu sua tese sobre a relação da Igreja com o Estado nos escritos de Ellen G. White.
Nesta entrevista, ele explica como o conceito do grande conflito entre o bem e o mal norteou a visão da profetisa adventista sobre a relação entre política e religião, e opina sobre o posicionamento ideal dos adventistas quanto às questões civis. Márcio tem 46 anos, é casado com a enfermeira Jane Vianel e tem duas filhas: Stephanie, de 10 anos, e Giovanna, de 8 anos. Além de lecionar no seminário, atua como pastor da Igreja da Faama.

Revista Adventista: Nos primórdios do adventismo, como era vista a relação entre Igreja e Estado?


Márcio Costa:
A separação entre Igreja e Estado, por causa de suas implicações para a liberdade religiosa, sempre foi uma preocupação adventista. Esse cuidado foi herdado da Conexão Cristã e do movimento milerita, por líderes como Tiago White, José Bates e Urias Smith. Porém, depois do desapontamento de 1844, as descobertas proféticas que apontaram os Estados Unidos como a segunda besta de Apocalipse 13, aumentaram essa indisposição para com o Estado. No então movimento sabatista, essa visão serviu de obstáculo contra a organização da Igreja Adventista. Alguns achavam que institucionalizar o movimento seria transformá-lo em Babilônia, ou seja, introduzir os preceitos do Estado na organização eclesiástica. Somente quando essa visão passou a atrapalhar o progresso da Igreja, os adventistas perceberam que a organização era fundamental para o cumprimento da missão, o que implicaria seguir dispositivos legais e dialogar com o Estado.

O movimento adventista vê com pessimismo a condição do mundo no futuro, pois acredita que, em última instância, apenas o estabelecimento do reino de Deus vai mudar o estado de coisas. Essa visão poderia gerar passividade social dos membros?
Esse é um perigo. Essa passividade social foi pregada pelos pioneiros durante a década de 1850 em relação ao debate sobre a libertação dos escravos. Para Uriah Smith, um dos líderes da época, o peregrino não deveria parar sua marcha em terreno estranho. Em resumo: se nosso lar não é aqui, não deveríamos nos preocupar com as coisas do mundo. Todavia, em 1860, com a candidatura de Abraão Lincoln à presidência americana com uma postura bem clara em favor da abolição da escravatura, os adventistas acabaram fazendo proselitismo a favor do voto, pois entendiam que a escravidão não consistia em mero direito do Estado, mas de uma questão moral. Na oportunidade, Tiago White argumentou que, por não haver apoio nem proibição bíblica quanto ao voto, a participação dos adventistas deveria se dar ou não de acordo com a consciência individual.

Como Ellen G. White se posicionou em relação ao trabalho social?
Em seus escritos, ela passou a defender a necessidade de o adventista se expor para a sociedade. Caso contrário, a postura indiferente poderia gerar a alienação dos interesses da Igreja em relação aos interesses do Estado, o que não é correto, pois temos preocupações similares às do Estado, como o bem-estar da sociedade. Na visão de Ellen G. White, o serviço social traz benefícios diretos e indiretos à comunidade que, por sua vez, também contribui para a pregação do evangelho. Portanto, o adventista tem a obrigação de minimizar as injustiças sociais assim como o guardião de um cego, cuja função não é apenas desviar o cego dos obstáculos, mas removê-los (Patriarcas e Profetas, p. 534).

Adventistas podem se candidatar a cargos públicos?
Ellen G. White é totalmente favorável e encoraja os jovens adventistas a ter grandes sonhos, de até promulgar leis e ocupar cargos e posições de grande influência. No entanto, ela adverte que, tal qual José no Egito, a religião deve ser o esteio de todas as decisões. Não pode haver incoerência entre o exercício da função e a prática da fé. Para ela, é a fidelidade às crenças bíblicas que pode levar um político adventista à notoriedade, e não a barganha dos seus princípios (Fundamentos da Educação Cristã, p. 83, 84).

Pode-se votar em candidatos não adventistas?
Se entre dois candidatos, o primeiro é favorável ao casamento homossexual, venda indiscriminada de bebida alcoólica e se mostra favorável ao aborto. E se, ao contrário, o segundo candidato se mostra conservador em relação as essas questões morais, devemos ficar com o último. Se assuntos morais são o divisor de águas da eleição, devemos nos posicionar. Se esses temas forem levados a plebiscitos, Ellen G. White aconselha que votemos até em dia de sábado, se necessário. O voto, portanto, é um dispositivo que a democracia nos dá de representar a vontade de Deus. Logo, não deveríamos eleger candidatos moralmente intemperantes, desequilibrados, de posicionamentos contrários à Bíblia.

O que dizer de proselitismo político na igreja?
Ellen G. White é contra. A razão apresentada é simples: quando determinado político é apresentado como boa opção diante dos membros, alguém automaticamente discorda verbal ou silenciosamente, e isso gera divisão entre os irmãos. O voto é um direito do cidadão e a igreja não se opõe a que o membro o exerça, desde que reserve essa decisão à vida privada e não faça proselitismo político na igreja. Por isso, não é recomendável que candidatos, ainda que adventistas, preguem durante a campanha, pois é inevitável a associação da pessoa com seus interesses políticos, ainda que a política não seja o tema da mensagem (Testemunhos Para Ministros e Obreiros Evangélicos, p. 332, 337).

Pode a Igreja filiar-se a partidos políticos?
Creio que não, pois precisamos ter independência ideológica. Nossa prioridade não é uma agenda externa, pois já temos nossa missão. Nosso envolvimento na questão da proibição da venda de álcool na década de 1860, nos Estados Unidos, é um exemplo dessa postura. Enquanto alguns grupos defendiam uma visão politizada, pressionando os políticos, os adventistas, incluindo Ellen G. White e outros líderes da igreja, subiram aos púlpitos para defender o aspecto bíblico da questão, que vê na reforma de saúde um processo de restauração da imagem de Deus. Essa pregação distintiva levou a conversão de, por exemplo, Sarepta M. I. Henry, uma das maiores ativistas pró-temperança da época. No entanto, quando a discussão migrou para a obrigatoriedade da guarda do domingo, os adventistas se alinharam aos vendedores de bebidas alcoólicas que também desaprovavam, por interesses comerciais, a lei dominical. Não temos filiações partidárias, mas fidelidade à nossa mensagem. A Igreja sempre foi favorável aos republicanos, porque historicamente promoveram os valores da República (sistema de governo visto pela Igreja como o ideal). Mas nesse caso, a igreja se posicionou em favor dos democratas, que estavam do lado da liberdade religiosa.

Qual é o papel do Estado e da Igreja?
Para Ellen G. White, as duas instituições foram estabelecidas por Deus, em esferas distintas. Ao Estado compete a manutenção da ordem social por meio do cumprimento das leis, o que envolve punição ou recompensa e, à Igreja cabe a transformação por meio do evangelho. Muitos autores sugerem que o modelo republicano é totalmente laico, de pressupostos puramente filosóficos e seculares. No entanto, ela afirma que, na elaboração da Constituição americana, o nome de Deus não foi mencionado porque estava autoevidente e porque era a base da Carta Magna (O Grande Conflito, p. 295). Por isso, em certo sentido, a autoridade exercida pelos líderes civis também é um sacerdócio. Também por essa razão, Ellen G. White vê a relação entre Igreja e Estado de modo espiritual, a partir do contexto do grande conflito entre o bem e o mal. Para ela, nos últimos dias, as duas instituições estarão sob os ataques do inimigo de Deus, e Satanás vai usar esses dois poderes de modo especial (Testemunhos Para Ministros e Obreiros Evangélicos , p. 202, 203).

E quando a Igreja se depara com governos tiranos?
É lícito manifestar desaprovação mediante dispositivos legais e pacíficos, como o voto, etc. Podemos obedecer às leis, desde que elas não conflitem com nossos princípios. No entanto, não podemos passar a imagem de rebeldia, como no caso das greves. Outro exemplo histórico aconteceu em meados da década de 1850. A lei vigente dizia que todo cidadão que reconhece um escravo (e a identificação era fácil, por causa da cor), deveria entregá-lo à polícia, para que o foragido fosse devolvido ao seu dono. Quanto a essa lei, Ellen G. White defendeu a desobediência civil, incentivando os adventistas a arcar com as punições do Estado. Em resumo, a manifestação sempre deve ser feita de forma pacífica. O princípio equilibrado é: obediência ao cumprimento das leis seculares e fidelidade a Deus. Quando a força do mal extrapola seus limites, Deus intervém.

Como a relação entre religião e política ainda terá implicações proféticas?
Segundo Ellen G. White, o maior problema em relação à besta de Apocalipse 13 é que ela não agirá conforme seus dois chifres: republicanismo e protestantismo. Ela possui os dois cornos que representam a relação de paz entre Igreja e Estado, mas suas ações são de perseguição e intolerância, ou seja, parece cordeiro mas age como dragão (Ap 13:11). Portanto, na visão dela, o Estado não é necessariamente mau, tanto que a iniciativa de impor leis que violarão a liberdade de consciência partirá dos movimentos religiosos e não do governo (O Grande Conflito, p. 592).

Esta entrevista, na íntegra, foi publicada na Revista Adventista do mês de junho. [Equipe ASN – Wendel Lima] – Retirado de Novo Tempo.