Rodrigo P. Silva
quarta-feira, 12 de dezembro de 2007
O Sepulcro Esquecido de Jesus
Recentemente foi noticiado pela TV um documentário de James Cameron anunciado a descoberta do túmulo de Jesus e seus familiares, afirmando que ele não ressuscitou. Será isso verdade? Em primeiro lugar é bom estabelecer que esse documentário segue a onda sensacionalista de produções como O Evangelho de Judas e Código Da Vinci. Cameron mostra um túmulo encontrado em Talpiyot, no subúrbio de Jerusalém, contendo 10 caixões de pedra (ossuários) que supostamente guardariam os restos mortais de Jesus e sua família (o que inclui Maria, sua mãe; Maria Madalena, sua esposa, e Judá, seu filho).Felizmente, desta vez a imprensa tomou o cuidado de mostrar que os arqueólogos que participaram da escavação em 1980 não vêem sentido nessas afirmações. Haja vista terem decorridos 27 anos desde o descobrimento sem a publicação de qualquer artigo ou nota científica que aponte para essa suposição de que se trata do túmulo de Jesus. Cameron tenta usar alguns estudiosos liberais que se mostram dispostos a trabalhar com a “possibilidade” (não a certeza) de que seria mesmo o túmulo de Cristo. Contudo, os principais especialistas em arqueologia de Israel (inclusive Amós Kloner, o descobridor da tumba) não aceitam nem de longe a hipótese do documentário.Eis algumas breves razões para rejeitarmos a tese de Cameron:1 – Mesmo os estudiosos mais liberais (que não aceitam plenamente a historicidade bíblica) admitem que Paulo e os evangelhos canônicos constituem a mais antiga fonte que temos da morte e ressurreição de Jesus. Sendo assim esses documentos deveriam ser nossa primeira referência. Contudo, Cameron quer desacreditar os evangelhos canônicos para levar os expectadores a crerem nalguns textos apócrifos tardios falsamente atribuídos a Felipe e que foram escritos mais de 200 anos depois da morte de Cristo (trata-se dos Atos e do Evangelho de Felipe). Ademais, não temos nenhum exemplar de seus textos originais gregos, mas sim uma compilação tardia de fragmentos feita somente depois do século 19. Um texto completo foi recentemente descoberto e será em breve disponibilizado ao público. Contudo, pelo que sabemos de seu conteúdo, percebe-se que o próprio evangelho de Felipe foi mal interpretado pelo cineasta uma vez que ele não contém uma narrativa sistemática da vida de Jesus, mas ensinamentos esparsos, sem nenhum contexto histórico. Ademais o texto fala da ressurreição de Jesus mas não menciona nada acerca de seu sepultamento. Não há nada ali que pudesse indicar o atual Talpiyot como sendo o lugar do túmulo de Jesus. 2 – Tive a curiosidade de examinar o catálogo oficial de Ossuários Judaicos do I século publicado por L. Y Rahmani. O que chama a atenção é que, segundo as anotações técnicas do catálogo, a escrita do caixão 704 (que seria de Jesus) está terrivelmente mal produzida e o próprio editor não tem certeza absoluta de que o nome ali escrito seria de fato Jesus, filho de José. Mas ainda que fosse, não seria o caso de espanto uma vez que esses eram nomes bem comuns na Judéia. Aliás, já foram encontrados e catalogados cerca de 900 ossuários do I século nos arredores de Jerusalém, destes, 10 tinham o nome Jesus. Ademais vários objetos funerários também foram encontrados contendo o mesmo nome e nalguns com o complemento “filho de José”. Como se vê, esta uma probabilidade de coincidência muito maior que o “600 por 1” mencionado no documentário. Quanto aos outros nomes, é de se notar que ao contrário do que diz Cameron, o nome “Mariane e Mara” que está no ossuário 701 pode ser um genitivo que quer dizer “Mara de Mariane" ou “Mariane cujo apelido era Mara” e não "Maria, a do mestre", como se tratasse de Maria Madalena. Alguns ainda pensam que podia se tratar do nome de duas mulheres, o que também é possível, mas nunca Maria Madalena. 3 – Jesus vinha de uma família pobre e como tal, jamais teria condições de ter uma caverna tumular como aquela. Os pobres eram enterrados em valas coletivas. Aquele túmulo pertencia à Família de José de Arimatéia e não havia transferência de túmulos de uma família para outra. Ele somente “emprestara” o túmulo para o corpo de Jesus pois, segundo os costumes da época, caso Jesus não houvesse ressuscitado, seus ossos teriam sido posteriormente colocados num ossuário e removidos para Nazaré que era, de fato, sua cidade de Origem. Tal como ocorreu no caso de José que teve seus ossos levados para fora do Egito. Assim, ainda que a ressurreição não tivesse ocorrido, os ossos de Jesus provavelmente voltariam para Nazaré. Mas não podemos ignorar que havia algumas exceções, ou seja, pessoas que não eram de Jerusalém e que tinham seus corpos sepultados ali. Neste caso, porém, o costume era escrever o local de origem do defunto e não sua filiação. Logo, caso fosse realmente o corpo de Jesus, a inscrição deveria trazer “Jesus de Nazaré” e não “Jesus, filho de José”. 4 – Embora não saibamos com precisão aonde ficava o Calvário, temos a informação de que era nos arredores de Jerusalém e que próximo dali havia um jardim no qual sepultaram Jesus. Logo, não podia ser muito distante dos muros da cidade. O problema é que o Túmulo referido por Cameron dista mais de 7 km da cidade velha de Jerusalém. James D. Tabor, um dos defensores de Cameron, tenta resolver o problema dizendo que havia dois túmulos de Jesus: um provisório, arranjado por Arimatéia e um definitivo construído pelos discípulos. Contudo não há nenhum indício histórico que confirme isso. Todos os relatos falam de um só túmulo e José de Arimatéia não conseguiria levar o corpo para tão longe num prazo tão curto. O dia, lembremos, estava escurecendo e o sábado estava começando. Cameron parece ter se esquecido de que não havia carros velozes naquele tempo!Creio que essas poucas observações sejam suficientes para averiguar que “o Sepulcro esquecido de Jesus” não passa de mais um documentário sensacionalista sem fundamentação alguma que possa, de fato, abalar nossa fé nas Escrituras.
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