sexta-feira, 3 de abril de 2009

A Trindade - Apostasia ômega?

BREVE HISTÓRICO DA TRINDADE ENTRE OS ADVENTISTAS

A maioria dos pioneiros e líderes do Movimento Adventista eram não trinitarianos. Hoje, a Igreja Adventista do Sétimo Dia oficialmente é trinatária. Pergunta-se como introdução para aguçar o pensamento. Eles estavam errados e nós estamos certos, ou eles estavam certos e nós estamos na linha da apostasia Ômega como dizem os opositores da trindade? Veremos neste breve histórico, se os Adventistas cresceram em sua compreensão a respeito da trindade, ou se eles perderam o rumo.
Segundo a história Adventista, o assunto da trindade ocupa cinco distintos capítulos na vida da igreja. Cada capítulo desta história está marcado por atos claros e definidos. (Trinity, págs 190-203) São eles:

1 – O período onde o pensamento anti-trinitariano era dominante – 1846 – 1888.
Nesse período, a maioria dos líderes e escritores da Igreja [José Bates, Tiago White, Uriah Smith, mais tarde E.J.Waggoner, e outros] eram anti-trinitarianos, ou pelo menos pensavam assim. Apenas alguns deles advogavam e aceitavam o conceito de trindade. Não eram totalmente incrédulos com respeito a obra de Jesus e do Espirito Santo. Mas não conseguiam vê-los como pessoas distintas no trio celestial. Eles apresentavam seis razões porque não conseguiam ser trinitarianos.

a-) Eles não viam evidência bíblica de três pessoas na trindade.

b-) Eles não conseguiam ver a coerência na afirmação de que Jesus era o poderoso Deus e igual com o Pai.

c-) Eles achavam que acreditar na trindade era acreditar em três deuses. Por isso rejeitavam a idéia completa.

d-) Achavam que o conceito de trindade diminuiria a expiação de Cristo feita na cruz ao morrer pela humanidade. Pensavam que se Cristo era Deus eterno, então como Deus ele não morreu. E se o divino não morreu, concluíam, Seu sacrifício não foi completo.

e-) Compreendiam que as citações: “Ele é o começo da criação de Deus” e “Cristo o Filho de Deus” deviam indicar que ele não era eterno.

f-) Achavam que as citações que dizem que o Espirito Santo foi derramado sobre toda carne ou derramado em nosso corações indicavam que Ele não podia ser uma pessoa.

Obs: Se você analisar todas estas objeções, verá que embora sejam baseadas em textos bíblicos, nenhuma delas é contraditória a respeito da crença da trindade. (Ver The Trinity, pág. 190-194)

2 – O começo da insatisfação com o anti-trinatarianismo – 1888-1898
A conferência geral de Mineápolis gerou muita insatisfação a respeito da trindade. E.J.Waggoner um dos principais oradores deste evento, embora não fosse totalmente trinatariano escreveu: “Cristo tinha vida em Si mesmo. [João 10:17] Ele possui imortalidade em Si mesmo. Há uma divina unidade entre o Pai e o Filho. Cristo é por natureza da mesma substância de Deus. Ele tem vida em Si mesmo. Ele é chamado de Jeová, e existe por Si mesmo. Ele é igual ao Pai e tem os atributos de Deus” (Citado em Trinity, pág 195)

Neste período, em 1892, Samuel T. Spear escreveu um panfleto esclarecendo que a crença na trindade não era crer em três deuses. E apresentou um alinha de raciocínio semelhante a que advogamos hoje. No mesmo período Uriah Smith, que era também anti-trinitariano, escreveu o livro Looking Unto Jesus, rejeitando suas idéias anteriores de que Cristo fora criado. Embora continuasse crendo que unicamente Deus não teve começo, e que Jesus veio à existência por algum meio não conhecido. Mas não criado. Neste livro, Smith reconhece, embora parcialmente a existência da trindade.

3 – O paradigma mudado – 1898 – 1915

Neste período, aconteceu a maior virada do pensamento Adventista sobre a trindade. A mudança se deu pela publicação do Desejado de Todas as Nações em 1898. Ellen começa falando de Jesus, e no terceiro parágrafo solta a bomba: “Desde os dias da eternidade o Senhor Jesus Cristo era um com o Pai” DN, pág. 19. Ao comentar a ressurreição de Lázaro, vem outra afirmação inesperada: “Em Cristo há vida original, não emprestada, não derivada” DN, pág. 530. Mais na frente ela diz: “O Senhor veio da sepultura pela vida que havia em Si mesmo” DN pág. 785. A mudança parecia tão grande e chocante que M.L. Andreasen que tinha se tornado Adventista há apenas quatro anos aos 18 anos e estava no Seminário preparando-se para ser um pastor não acreditou que Ellen White tivesse escrito estas declarações. Ao entrar para o ministério em 1902, ele viajou até a Califórnia para conferir pessoalmente com a irmã White se aquelas declarações eram suas mesmo. Tudo foi confirmado dela para ele. No mesmo livro, Ellen White reconhece o Espírito Santo como a Terceira pessoa da Divindade e O chama de “Ele” (Ver DN. Págs 669-671). Sem sombra de dúvida, O Desejado de Todas as Nações foi um divisor de águas na compreensão do assunto da Trindade.

Aqui neste ponto, quero acrescentar alguns comentários sobre a posição de Ellen White sobre a questão da trindade. Muitos dos críticos atuais sobre o assunto, usam afirmar que Ellen White nunca apoiou a doutrina da trindade e, que os ASD têm violado suas declarações nas traduções e com isso tem forçado Ellen White a dizer o que ela nunca disse. Dizem mais que as mudanças do pensamento anti-trinitariano para trinitariano, se deram após sua morte. Especialmente após a conferência bíblica de 1919.

Seria isso verdade? Em que se baseiam para afirmarem isso? Vejamos um pouco mais de história:

Nesse período de mudança de pensamento, [1898-1915] aparece a figura do Dr. J.H. Kellogg. Ele escreveu o livro The Living Temple com a proposta de vender 500 mil cópias e empregar os recursos na reconstrução do Hospital que tinha destruído pelo fogo. A liderança da igreja a princípio aceitou a proposta, mas ao tomarem conhecimento do conteúdo do livro, o assunto pegou fogo. Ellen White a princípio, esteve calada. Mas chegou o momento de falar e falou como sempre com autoridade e bases bíblicas dizendo que o livro do Kellogg era uma negação da fé, era uma heresia espiritualista. (Ver Trinity, pág. 217) O livro é uma defesa aberta do panteísmo. Então, veja algumas da mais fortescitações da irmão White sobre a questão da trindade escritas exatamente neste momento de crise. Observe a seqüência de datas.

“O obreiro de Deus é o agente através do qual a comunicação celestial é data, e o Espirito Santo dá autoridade divina para a palavra da verdade.” RH, Abril 4, 1893 – (SDABC. Vol6, pág. 1053)

“As três grandes potestades do céu são testemunhas, são invisíveis, mas estão presentes.” MS, 57. 1900 – (SDABC. Vol 6, pág. 1074)

“A obra é delineada frente a cada alma que tem confessado sua fé em Jesus Cristo mediante o batismo, e se tem convertido em um receptáculo da promessa que procede das três pessoas da divindade: O Pai, o Filho e o Espírito Santo.” MS, 57, 1900 – (SDABC, Vol 6, pág. 1074)

“O Pai, o Filho e o Espírito Santo, poderes infinitos e oniscientes, recebem aqueles que verdadeiramente entram em relação de concerto com Deus. Eles estão presentes em cada batismo, para receber os candidatos que tem renunciado o mundo e tem recebido Cristo no templo da alma.” MS 27, 1900 (SDABC, Vol 6, pág. 1075)

“Quando aceitamos a Cristo, e no nome do Pai e do Filho e do Espirito Santo prometemos servir a Deus, o Pai, Cristo e o Espírito Santo p Os três dignitários e poderes do céu – empenham-se a Si mesmos de que todas as facilidade nos serão proporcionadas, se cumprirmos nosso voto batismal...” MS 85, 1901 (SDABC, Vol 6, pág. 1075)

“O Pai, o Filho e o Espírito Santo, os três santos dignitários do céu, declararam que eles fortalecerão os homens para vencer os poderes das trevas...” MS 92, 1901 (SDABC, vol 5, pág 1110)

“Ele (Cristo) determinou dar seu representante, a terceira pessoa da Divindade. Este Dom não seria excedido...” SW Nov.28.1902 (SDABC, Vol 6 pág 1053)

Note o que ela escreveu quando o assunto do panteísmo de Kelloggs estava em pauta:

“Fui instruída a dizer: Os sentimentos dos que andam em busca de avançadas idéias científicas não são para confiar. Fazem-se definições como essas: O Pai é como a Luz invisível: O Filho é como a luz corporificada, o Espirito é a luz derramada. O Pai é como o orvalho, vapor invisível; O Filho é como o orvalho condensado em um bela forma; e o Espirito é como o orvalho caído sobre a sede da vida. Outra apresentação: O Pai é como o vapor invisível, o Filho como a nuvem plúmbea, e o Espírito é a chuva caída e operando em poder refrigerante. Todas estas definições espiritualistas são simplesmente nada. São imperfeitas, inverídicas... Deus não pode ser comparado a coisas feitas por Suas mãos. Estas são meras coisas terrenas... O Pai não pode ser definido por coisas da terra,

O Pai é toda a plenitude da Divindade corporalmente, e invisível aos olhos mortais. O Filho é toda a plenitude da Divindade manifestada. ...O Consolador que Cristo prometeu depois de ascender ao Céu, é o Espírito em toda plenitude da Divindade, tornando manifesto o poder da graça divina a todos quantos recebem e crêem em Cristo como um Salvador pessoal. Há três pessoas vivas pertencentes à trindade celeste, em nome destes três grandes poderes – O Pai, o Filho e o Espírito Santo – os que recebem a Cristo por fé viva são batizados... (Grifos acrescidos) (Special Testemunies, Série B, Nº 7, págs 62 e 63. (1905)
“Virtualmente, tomamos um solene voto, em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, que deste então, nossa vida se uniria na vida destas três grandes Agencias, que a vida que viveríamos na carne, deveria ser vivida em fiel obediência à sagrada lei de Deus.” MS67, 1907. (SDABC Vol 1, pág 1120)

Neste período um dos destacados líderes e editor da mais importante revista dos ASD, a Review and Herald, F. M. Wilcox – um dos cinco depositários indicados por Ellen White para cuidar do patrimônio literário dela, escreveu uma síntese das crenças dos ASD. E no ano de 1913 [Note que Ellen White estava viva e não contradisse o que ele escreveu] Wilcox escreveu na Review: “Os Adventistas do Sétimo Dia crêem na Divina Trindade. Esta Trindade consiste do eterno Pai... O Senhor Jesus Cristo.... e o Espírito Santo, a terceira pessoa da Divindade.” (Grifos acrescidos) (Trinity, Pág. 218)

Penso que Ellen White desde o começo tinha uma mentalidade trinitariana, uma vez que ela era um fiel Metodista e os Metodistas são trinitarianos, [mas os Metodistas não têm a mesma compreensão do assunto como o temos hoje.] Mas creio também que sua compreensão sobre o assunto foi se aprofundando à medida que Deus ia lhe proporcionando as visões. Assim como ela cresceu na compreensão do sábado, da porta fechada, da alimentação e de outros pontos fundamentais de nossa fé, ela cresceu também na compreensão da trindade.

Creio também que embora Ellen White tivesse alguma idéia diferente sobre determinado assunto, ela se submetia à vontade de Deus. Veja o que ela disse sobre isso: “ Nessas cartas que escrevo e nos testemunhos que dou, eu apresento para vocês aquilo que o Senhor me apresentou. Não escrevo um artigo sequer, expressando minhas próprias idéias. Elas são o que Deus tem aberto para mím em visão.” – Selected Messages, book I, p. 27)

4 – O declínio do anti-trinitarianismo. 1915-1946

Talvez por causa da declaração do Wilcox, o debate a respeito da trindade entrou pelo século XX provocando acaloradas discussões entre os ASD. Em 1919, o assunto da Cristologia e da relação de Cristo com Deus assumiram lugar de destaque. Note que apesar da declaração de Ellen White de que em Cristo há vida original, não emprestada e não derivada, alguns continuaram afirmando que Cristo era de alguma maneira derivado do Pai.(Ver Merlin Burt, Monografia da Andrews, 1996 págs 26,27 e 31)

Em 1930 os irmãos da Divisão Africana solicitaram que a Conferência Geral enviasse um documento para que eles pudessem apresentar ao governo nossas crenças. A Associação Geral enviou 22 crenças fundamentais que apareceram no Year Book de 1931. Entre as crenças aparece: “A Divindade ou Trindade” “Jesus é verdadeiramente Deus”

Em 1946 a Conferência Geral tomou um voto dizendo que nenhuma mudança de nossas crenças como aparecia no Manual da Igreja deveria ser feita a não ser por voto da Sessão da Conferência Geral. Isto era uma aceitação oficial da trindade pelos ASD.

5 – O domínio da crença da Trindade. – 1946 até o presnete.

Em 1957 com a publicação de Questions on Doctrine a questão do uso de “O Trio celestial” foi aceita e propagada pelos ASD.

L.E. Froom publicou em 1971 o livro Movement of Destiny. Talvez podemos dizer que Froom foi o campeão de defesa da Trindade.

Mais recentemente, Fernando Canale escreveu um pequeno livro no qual ele defende que a compreensão que os ASD têm sobre Deus e a trindade, está baseada somente na Bíblia e não mesclada com a filosofia grega.

Finalmente em 1980 a Conferência Geral realizada em Dallas, votou as 27 crenças fundamentais dos ASD como aparecem no livro Nisto Cremos, dentre as quais está esboçada de forma clara, concisa e Bíblica a doutrina da trindade.

Um outro argumento que devemos apresentar àqueles que nos acusam de termos formalizado nossa apostasia como Igreja com o voto e a aceitação oficial da trindade em Dallas pelos ASD em 1980, é a seqüência histórica sobre a aceitação oficial da doutrina da trindade pelos ASD, que talvez os críticos não conhecem.
“O primeiro documento das crenças fundamentais dos ASD foi elaborado por Uriah Smith em 1872. Note que Smith era anti-trinitariano e neste período o pensamento da maioria era anti-trinitariano. Mas, assim mesmo houve fortes oposições e o documento não recebeu a aprovação oficial da igreja. Um segundo documento foi preparado em 1889, também por Uriah Smith. Como já estavam num estágio mais avançado de compreensão do assunto – veja a data – e Smith também tinha crescido, o documento agradou aos dois grupos: Os anti e os trinitarianos. O terceio documento de nossas crenças foi escrito por F.M. Wilcox em 1931. Este foi o primeiro documento a receber o status oficial da Igreja. Em 1946 a Conferência Geral em sessão geral votou que o documento de nossas crenças de 1931 somente poderia ser mudado em sessão da Conferência Geral. Sendo assim, o documento de Dallas foi o quarto documento produzido pelos ASD, mas foi o segundo a receber a aprovação oficial da Igreja.

Percebemos que temos a resposta para a pergunta formulada no começo deste breve histórico. Notamos claramente que a rejeição que eles tinham da doutrina da trindade, derivava de mão de Deus guiando-os para longe de uma doutrina da trindade mesclada com idéias pagãs. Hoje, após diversos passos na direção certa, podemos afirmar que os ASD não estão cumprindo a profecia da apostasia ômega por crerem na trindade. Mas, pelo contrário, temos visto a mão de Deus guiando seus líderes, estudiosos, escritores e administradores na compreensão mais clara a respeito da trindade com base estritamente bíblica. Louvado seja o Senhor por isso. Amém.

Ivanaudo B. Oliveira

Secretário USB

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